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Qual é a importância do ambiente no estabelecimento do comportamento?


Foi a interação com vários ambientes anteriores que dispuseram as contingências selecionadoras da aprendizagem e cognição, do comportamento social e da comunicação, dos sistemas de corte, de nidificação, de parentalidade e território, de caça navegação e migração além de outros padrões comportamentais incontáveis (Ver Alcock, 2005; Breed & Moore, 2012).

Uma ciência do comportamento de base evolucionista necessariamente deve se valer de áreas de concentração que visem compreender tanto os aspectos filogenéticos e ontogenéticos quanto os culturais envolvidos no controle ambiental sobre o comportamento (Skinner, 1981).

A Genética Comportamental, a Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento (Evo-Devo) e a Paleontologia são algumas das disciplinas capazes de gerar conhecimento sobre as contingências seletivas que estiveram em vigor em um ambiente anterior e dos tipos de controle incondicionado aos quais os organismos estão predispostos ainda ao nascer ou em virtude de algum momento específico de seu desenvolvimento.

As Neurociências (e.g. Psicofísica, a Psicobiologia, Neurobiologia, etc.), a Ecologia, a Etologia e a Análise do Comportamento são as disciplinas que se encarregam da descrição dos mecanismos de controle atuais sobre o comportamento desde níveis intraorganísmicos e moleculares (e.g. fisiológicos e anatômicos), passando por contingências de reforço e punição em nível operante até um nível de contingências comportamentais entrelaçadas organismo-organismo.

Ainda que tratem de questões atuais sobre o comportamento dos organismos, isto não quer dizer que estas disciplinas desconsideram os determinantes históricos e o papel das consequências sobre o controle do comportamento. Ao contrário, elas valem-se dos dados históricos para fundamentar suas explicações sobre porque um organismo se porta hoje da maneira como se porta.

Por último, a antropologia, a economia e a linguística são exemplos das disciplinas que se ocupariam da análise dos contextos culturais e, portanto, das contingências mantenedoras de comportamentos sociais complexos (e.g. práticas verbais típicas de determinados grupos, estudos das agências sociais de controle e de metacontingências). 

A multiplicidade de disciplinas relacionadas ao estudo do comportamento dá pistas sobre a complexidade do empreendimento científico necessário para explicar o fenômeno comportamental entre suas três dimensões. Em cada uma destas disciplinas, o tipo de controle exercido pelo ambiente pode ser alterado de modo a configurar-se em contingências de diferentes alcances e magnitudes. Contudo, independentemente da forma como se expressa em um contexto particular, o ambiente sempre será parte indissociável do estudo do comportamento.

Luiz Henrique Santana
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Referências

Alcock, J. (2005). Animal Behavior: an evolutionary approach. 8th edition. Sunderland: Sinauer.

Breed, M. D. Moore, J. (2012). Animal Behavior. Burlington: Academic Press.

Skinner, B. F. (1981). Selection by Consequences. Science, 213, 501-504.

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