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O que é contingência?


Contingência é uma unidade de análise do comportamento. Ela descreve uma relação funcional em suas partes ambientais (os estímulos) e organísmicas (as respostas). Existem pelo menos duas formas elementares de se representar uma contingência dependendo do tipo de relação comportamental que podemos tratar.

O primeiro tipo é a contingência respondente que considera a relação entre dois termos: um estímulo antecedente eliciador (que pode ser incondicionado ou condicionado) e uma resposta eliciada. O paradigma respondente é herdeiro dos trabalhos de Ivan P. Pavlov, fisiólogo russo que construiu sua obra entre o fim do século XIX e o início do século XX, e John B. Watson (1913), psicólogo norte-americano que se apropriou dos fundamentos metodológicos do trabalho de Pavlov para lançar a primeira proposta de psicologia comportamental em seu ensaio Psychology as the behaviorist views it.

A continuidade das pesquisas experimentais behavioristas deu base para que B. F. Skinner, 1904-1990, em seu The Behavior of Organisms (1938), cunhasse um segundo paradigma para a ciênciado comportamento – o paradigma operante – que punha em evidência o controle exercido pelo efeito ambiental das ações de um organismo sobre o seu mundo. Resumidamente, Skinner estabeleceu um novo tipo de contingência em que a principal relação de causalidade era a seleção exercida por um estímulo conseqüente (posteriormente chamado de reforçador) sobre uma determinada classe funcional de respostas do organismo. Deste modo, o controle antecedente que o ambiente exerceria sobre o organismo, a partir do paradigma operante, seria muito menos pré-determinado por uma estimulação eliciadora do que previa a proposta pavloviana. Este controle antecedente seria então exercido, principalmente, por um controle evocativo de estímulos discriminativos para o contexto em que a relação funcional entre resposta e consequência reforçadora estaria em vigor.

Tabela 1. Representação esquemática de uma contingência respondente e outra operante. Cada tipo de comportamento (respondente e operante) pode assumir configurações infinitamente mais complexas do que as representações acima. Todavia, estas são as menores unidades de análise funcional do comportamento que representariam todas as dimensões determinantes da relação comportamental definida por cada um destes paradigmas.



ANTECEDENTES
RESPOSTA
CONSEQUÊNCIA
Contingência Respondente
S eliciador
R eliciada
-
Contingência Operante
Sd (discriminativo)
R evocada
S reforçador



Luiz Santana
________________
Referências

Watson, J. B. (1965). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, 158-177.

Skinner, B. F. (1966). The behavior of organisms. New York: Appleton-Century-Crofts.

Comentários

Unknown disse…
É só uma sugestão: colocar o texto um exemplo, para pessoas como (ignorantes no assunto, mas que tem interesse) entender melhor.

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