Pular para o conteúdo principal

Poderia explicar o "determinismo", no ponto de vista: Um menino que nasce com lobos, tende a agir como lobo?



Em sua obra “Ciência e Comportamento Humano”, Skinner (1953/2003) disserta a respeito da ciência comportamental que, por trabalhar com a previsão e o controle, mostra-se amparada na suposição de que todo comportamento humano seria determinado.

De acordo com Baum (2006), aspectos ambientais e hereditários determinariam a emissão dos comportamentos, uma vez que este estaria sujeito aos três níveis de seleção, a saber: filogenético (caracteres da espécie transmitidos hereditariamente), ontogenético (caracteres da história de vida do indivíduo) e cultural (caracteres derivados das práticas culturais de determinada população.

Entretanto, ainda na linha de raciocínio do Behaviorismo Radical, tal determinação do comportamento não seria absoluta, uma vez que este é um objeto de estudo complexo, e a sua emissão envolve relações funcionais das mais diversas, com múltiplas variáveis exercendo algum controle, sendo acrescentada à palavra “determinismo” o termo “probabilístico” para expressar a incapacidade de explicar com precisão a causa exata de qualquer comportamento (Laurenti, 2008).

A partir da frase “um menino que nasce com lobos, tende a agir como lobo” pode-se realizar algumas análises a respeito das possíveis variáveis que estariam exercendo controle sobre o comportamento do menino. Por um lado, tem-se o aspecto filogenético da espécie, o qual determinaria comportamentos como andar sobre duas pernas e desenvolver a linguagem verbal (desde que estimulado para tal); por outro, tem-se as variáveis do meio em que ele se encontra: possível floresta, rodeado por animais de outra espécie, de características físicas totalmente distintas da sua e que emitem comportamentos selvagens para garantir sua sobrevivência. Dessa forma, nesse ambiente, sob estas circunstâncias, possivelmente o garoto passaria a emitir comportamentos similares aos dos lobos.

Atenciosamente,

Flávia Almeida

____________
Referências

Baum, W. M. (2006). Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução (Silva, M. T. A., Matos, M. A., & Tomanari, G. Y., Tradução.). 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.

Laurenti, C. (2008). Determinismo, probabilidade e análise do comportamento. Temas em Psicologia, 16(2), 171-183.

Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano (Todorov, J. C., & Azzi, R., Tradução.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953).

Postagens mais visitadas deste blog

Qual a diferença entre punição negativa e extinção?

Esta dúvida é comum e, felizmente, de simples explicação. Na punição negativa, a eliminação de um estímulo reforçador ocorre contingente à emissão da resposta. Na extinção operante, não há reforçamento programado para uma classe de respostas, modo que quando emitidas, essas respostas não produzem nenhum estímulo consequente. Não há relação de contingência neste caso e Catania (1999) corrobora esta afirmação. Conceba este exemplo banal: alguém assiste TV. Outro morador da casa exige utilizar a mesma TV. Após uma rápida briga, o primeiro ofende o segundo, que apanha o controle remoto e saí correndo. Desprovido do equipamento, o indivíduo poderá continuar assistindo TV, mas estará desprovido de um reforçador: comodidade para passar os canais, que foi eliminada contingente à sua resposta de ofender o outro. Nessa mesma situação, as pilhas do controle poderiam parar de funcionar, de modo que o equipamento ficaria temporariamente inutilizado e a comodidade, suspensa. Mas tal suspensão f...

O que é contingência?

Contingência é uma unidade de análise do comportamento. Ela descreve uma relação funcional em suas partes ambientais (os estímulos) e organísmicas (as respostas). Existem pelo menos duas formas elementares de se representar uma contingência dependendo do tipo de relação comportamental que podemos tratar. O primeiro tipo é a contingência respondente que considera a relação entre dois termos: um estímulo antecedente eliciador (que pode ser incondicionado ou condicionado) e uma resposta eliciada. O paradigma respondente é herdeiro dos trabalhos de Ivan P. Pavlov, fisiólogo russo que construiu sua obra entre o fim do século XIX e o início do século XX, e John B. Watson (1913), psicólogo norte-americano que se apropriou dos fundamentos metodológicos do trabalho de Pavlov para lançar a primeira proposta de psicologia comportamental em seu ensaio Psychology as the behaviorist views it. A continuidade das pesquisas experimentais behavioristas deu base para que B. F. Skinner, 1904-199...

Para o Behaviorismo, a punição é o inverso do reforçamento?

Para o Behaviorismo, considerando que este é uma escola filosófica composta por uma série de pesquisadores com linhas teórico-experimentais distintas, seria impossível esgotar em uma breve explanação todas as possibilidades explicativas para contemplar esta pergunta. Portanto, concentremos nossos esforços nas duas principais propostas que discutem o conceito de punição atualmente: a de B. F. Skinner (1953/2003) e a de Azrin e Holz (1966/1975) (Mayer & Gongorra, 2011). A fim de esclarecer as diferenças entre as operações comportamentais que envolvem reforçamento e punição, Skinner (1953/2003) se propõe a definir alguns conceitos básicos. Um reforçador positivo caracteriza-se como um estímulo o qual, ao ser apresentado de modo contingente a uma resposta, fortalece a mesma. Já um reforçador negativo (estímulo aversivo) seria um estímulo cuja retirada fortalece uma resposta. Ambos são reforçadores, considerando que aumentam a frequência do responder. Para aquele autor, a punição e...